Sabe
aquelas histórias sobre a PJ que vira e mexe a gente gasta um tempo enorme para
desmentir? Se eu lhe oferecer a chance de pensar em três destas histórias,
certamente uma delas será “a PJ não reza” ou “a PJ não tem espiritualidade”,
não é verdade?
Este caso chega a ser repetido por tantas e diferentes pessoas, que acaba se
tornando parte da mitologia pejoteira: um grupo de histórias fantásticas e/ou
fantasiosas que servem para explicar ou justificar para um grupo de pessoas
porque a PJ é do jeito que é.
Quem acompanha este blog sabe que eu defendo a espiritualidade pejoteira como
uma das marcas fortes de nossa identidade pastoral. E se esta é uma das
características marcantes do nosso jeito de ser, é claro que este mito de que a
PJ reza é algo que nos foi atribuído e que muita gente repete por aí, mas não é
algo que faça parte de nossas características.
E
como é que nós rezamos? Nossa espiritualidade tem características bem
definidas: ela é centrada na pessoa de Jesus e na sua missão, parte sempre de
nossa realidade concreta e leva sempre a uma transformação pessoal, grupal e
social.
Mas se a nossa espiritualidade é tão bem definida, como podem algumas pessoas
dizer que a PJ não reza? Porque na cabeça de algumas pessoas, oração é algo
extremamente individualista, que é cercado de mistério e que celebra uma
relação vertical (entre a pessoa e Deus) e deixa de lado a relação horizontal
(entre as pessoas).
Há também aqueles que apontam para a espiritualidade como algo que esteja
desligado das coisas da vida cotidiana. Herdeiros de um platonismo mal
explicado, acham que só valem mesmo a pena as “coisas do alto” e que as “coisas
do mundo” só servem para nos corromper.
Por fim, entre os que acham que a PJ não reza há também aqueles que despiram
Jesus de sua vida e de sua proposta. Para estes, Jesus é o maior dos
milagreiros, quase um super mágico. E quase ignoram o que venha a ser Reino de
Deus, quase sempre associado ao prêmio da vida após a morte para aqueles que se
sacrificaram durante esta vida mundana, seguindo ao pé da letra regras e
preceitos.
Então, se é assim, é fácil ter uma espiritualidade pejoteira, não é?.
Infelizmente isto não é verdade. Eu já pude presenciar muitos lugares em que,
de fato, a PJ não reza. E isso normalmente acontece porque não se faz a
integração fé e vida de forma harmônica.
Já fui em tantas reuniões e encontros em que as pessoas simplesmente não param
um minutinho para uma reflexão em torno dos mistérios da vida e da fé que nos
motiva a seguir adiante. E tantas outras em que havia no cronograma o momento
da “espiritualidade”, mas que estes eram momentos de discursos chatos que só
falavam e falavam, mas não mexiam, provocavam ou motivavam as pessoas. Há
pejoteiro que confunde oração com formação e despeja sobre os demais sua boa
(ou má) oratória.
Há pejoteiro que descuida ou que acha pouco importante a oração pessoal. Para
eles, bons mesmo são os momentos em que ele reza com o grupo. Claro que estes
são momentos importantes, mas não se pode abrir mão do momento de rezar
sozinho. Se você é capaz de guardar cinco minutos diários para estar em
sintonia com a sua própria vida, com a vida dos seus irmãos, amigos,
familiares, conhecidos, pedir a Deus por eles, pedir paciência para lidar com
suas relações, agradecer os momentos vividos e, como dizia o padre Zezinho,
pedir a sabedoria para dizer “a palavra certa, na hora certa e do jeito certo e
para a pessoa certa”, você já fez grande coisa. Isto também é alimentar
diariamente sua espiritualidade.
É claro que estes momentos não substituem as orações em grupo ou a celebração
eucarística de sua comunidade. Todas elas têm sua importância e nenhuma delas
toma o lugar da outra. A PJ tem como característica enriquecer os momentos de
espiritualidade em grupo com elementos que saltam aos sentidos. Há muita cor,
luzes e sombras, cheiros e sabores, vida e história, sonhos e desafios, toques
e movimento, música e dança, símbolos e significados presentes nestas
celebrações e orações. Este é um diferencial. E isto é muito importante. Basta
ver, como exemplo, o uso da Leitura Orante da Bíblia ou do Ofício Divino da
Juventude.
A PJ reza? Claro que reza! Que pergunta! Mas é preciso estarmos atentos sobre o
valor que damos a estes momentos e como eles são conduzidos. Momentos de
espiritualidade não são “blocos” a serem preenchidos num cronograma de reunião
ou encontro, mas sim elementos fundamentais para fortalecimento da nossa
identidade e da nossa missão.
Autor/Fonte:
Rogério de Oliveira
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